sábado, 15 de julho de 2017

Thiagão e a erva amaldiçoada - Relato cannabico

  Estávamos eu e Thiagão em casa batendo um Fifa no Play 2 quando o Bigode me liga:

📞 TRIIIIIIIMMM (Mentira, meu celular não tem um toque tão tosco assim) 📞

-Fala Bigodon!
-Mano, ta você e o Thiagão aí? Puta que pariu, me escuta!

  Na mesma hora pensei que tinha dado merda, pela voz afoita do Bigode achei que alguém tinha morrido e o caralho.
-Calma Bigode, respira e me conta o que aconteceu.
-Veio, presta bem atenção! Um amigo meu é brotherzaço de um cara produtor do verdinho, eles tem um terreno na zona rural da cidade perto da Fazenda do Urubu e plantam maconha lá, só pra eles mesmo, uso próprio, coisa fina, sementes importadas da Holandola e tals...

 Já vi que não era nada sério. Bigode desesperado maldito, sempre exaltado pra dar notícias..
-Tá, mas e aí.
-Aí que eles ficaram sabendo de um informante que a polícia tava com mandato e ia lá dar um baculejo fudido hoje, o resultado: os caras colheram TODA a maconha que tinham plantada e esconderam no meio do mato nos arredores da fazenda. Mano, ta tudo lá! E o melhor meu amigo, disseram que os sujeitos revoltaram com isso e largaram tudo de lado, se vocês forem no lugar e acharem é de vocês.
  Olhei pro Thiagão com uma preguiça do cacete e ele olhou de volta curioso, querendo saber o que estava rolando.
-Olha Bigode, muito tentador mas a zona rural é longe pra caralho, a gente acabou de chegar do trampo e tô com uma preguiça fudida. Aaah, e nem carro a gente tem, essa fazenda do Urubu fica a uns 15km daqui, então não, nem ferrando. Se você quiser aparecer a gente joga um vídeo-game, pede uma pizza e umas cervejas e já era.
-Compadre, você não ta entendendo: os caras que jogaram essa sardola fora são profissionais! Diz meu amigo que no meio lá tem White Window, Moby Dick e até a lendária Pterodáctilo Crazy.
-Cara, não.
  Thiagão se manifestou: -O que vocês estão discutindo aí hein?
Tapei a boca do celular com a mão e contei a história.
-Aaaaaa, ta de brincadeira né Dexter! (Thiagão tem mania de me chamar assim, diz ele que pareço o personagem principal dessa série) É lógico que a gente vai lá porra, perder uma oportunidade dessas?
-Ta maluco Thiago, e vamos lá de quê? A pé?
-De bike ué.
-Hahaha, boa piada, não, nem fudendo.

  Dez minutos depois estávamos cada um em cima de uma bicicleta, prontos pra partir. Sério, não sei como o Thiagão consegue me convencer a fazer esse tipo de coisa.. Mas enfim, vai que a gente consegue, um skankzinho é sempre bom.
  Seguimos viagem e uma fucking hora depois estávamos chegando perto da fazenda do urubu. Puta que pariu, o sol tava quente pra porra, suávamos igual porcos indo pro abate e já fazia bem uma meia hora que eu não via nada na nossa frente além de estrada de chão e pastos; vez ou outra passava uma caminhonete ou carro. E o pior disso tudo é que o arrombado do Bigode nem ir com a gente foi, passamos na casa dele e o safado disse que tinha que ficar porque a irmã estava sozinha e doente, só tinha ele em casa e blá blá blá.
O cara só explicou mais ou menos onde era o rancho dos produtores e lá fomos nós. Outro detalhe interessante: nossas bikes não eram aquelas fodonas, desenvolvidas pela NASA, com 1001 marchas e os caralhos, não.. Eram duas crosszinhas velhas pra cacete, pesadas e duras pra caramba na hora de pedalar; na estrada de chão ainda, nuuuu. Penamos. Mas a culpa não era minha e sim do Thiagão maldito e do Bigode, desde o princípio eu não quis ir.

-Porra Thiagola, só você mesmo pra me arrastar pra umas barcas furadas dessas velho, puta que pariu.
-Caaalma Dexter, a gente já tá chegando, vai valer a pena, só acredita.

  Tomara que valesse mesmo, tava ficando desconfiado é que a gente ia chegar e não encontrar porra nenhuma, não é possível que os caras iam jogar tudo fora. Passamos pela Fazenda do Urubu, pela ponte do córrego e entramos pela direita, igualzinho o Bigode receitou. Chegamos enfim no tal do rancho dos caras e começamos a procurar nos matos em volta. Procuramos, procuramos, procuramos... e nada. A única coisa visível era um boi atrás da cerca mascando capim e olhando pra gente.
-Calma Dexter, ta por aqui, vamos encontrar.
20 minutos depois...
-A gente vai achar, só continua procurando..
20 minutos depois...
-Porra, o Bigode garantiu que estava por aqui, então está! Esses caras malocaram bem, mas não vamos perder as esperanças, procura!
20 minutos depois...
-Bigode filho da puta!
-Pois é mano, desiste, avisei que isso era programa de índio desde o começo. Bora voltar pra casa e fumar o prensado que a gente tem que é o que resta.
-Veio, foram 15 quilômetros, vamos procurar só mais um pouco.
-Ta bom Thiagão, tá bom.. 🙄

  Já tinha desistido e estava procurando cabisbaixo quando avisto uma coisa ao longe... Um cobertor marrom enrolando algo, disfarçado bem no meio de uns matos altos. Como eu não tinha visto aquilo antes? Estava ali desde o princípio, passamos batido. Cheguei perto tenso, expectativa foi de 0 a 100 em 1 segundo.. O negócio estava malocado igual um bezerro se escondendo no pasto e você já viu como é um bezerro se escondendo no pasto? É simples, você não vê o bicho, é impossível! Ele se abaixa bem abaixadinho e você pode passar do lado que não repara nele; daí é só a mãe vaca chegar mugindo e ele se levanta, balança a poeira e segue correndo feliz pra ela. Pois é, os caras se inspiraram nos bovinos da mãe natureza na hora de esconder o bagulho, e no caso eu era a vaca, pronta pra levar meu filhinho embora.
  Nos aproximamos do cobertor, Thiagão boquiaberto, os dois torcendo para ser a sardola e não um corpo.. Bati a mão no embrulho: simplesmente subiu aquela marola de erva da boa, pura, prontinha para ser queimada. Olhei pro mano com uma cara malandra e telepaticamente disse "Nos demos bem maluco." Daí foi só gritaria nossa, comemoração, abraços emocionados, se não me engano vi lagrimas nos olhos de Thiago. Ao abrir o cobertor a surpresa que já era agradável se tornou incrível: pencas de camarão, verdinhos, de muitas variedades; sem exagero, uns 3,5 kgs de brenfa devia ter ali fácil, os produtores não deviam estar pra brincadeira. Tava na cara que os donos da maconha não estavam jogando fora o bagulho e sim escondendo, eles iam voltar pra pegar. Mas é como dizem né, foda-se, bora lalar essa porra, tava no meio do mato mesmo, no mato não é de ninguém. Enchemos a mochila, com um sorriso de orelha a orelha e partimos dali, felizes da vida.

-Porra Dexter, não vou aguentar chegar em casa, sério, isso aqui é sardola de Q-U-A-L-I-D-A-D-E!
-Tô vendo mano, acelera as pedaladas aí que a verdadeira viagem ainda tá pra acontecer!

  Nesse ponto não sei se foi karma, não sei se foi porque mandei o Thiagão pedalar mais rápido e isso forçou a crosszinha dele ou se foi puro azar mesmo, mas o pneu do filha da puta furou! Sério, logo agora, no auge da ansiedade.
-Porra mano, olha que merda! Vamos demorar um século pra chegar se formos caminhando!!
-Calma cara, eu tenho um plano. Ta vendo aquela birosca ali?👉   Thiago apontou para um barraco caindo ao pedaços com umas propagandas pré-históricas de cerveja, algumas de umas marcas que acho que nem existem mais.
-Tô.
-Vamos lá perguntar se eles sabem se tem um borracheiro ou lugar que conserta bicicleta por aqui.


  Saímos empurrando as bikes e nos aproximamos do recinto. O lugar era um lixo: vigas de madeira carcomidas, cadeiras e mesas de metal enferrujado (alô tétano), uns três tiozinhos tomando cerveja e uma estufa (provavelmente bicentenária) onde repousava a séculos um ovo cozido -que eu não comeria nem me pagando- e umas almôndegas. Inclusive quando a gente chegou no balcão um dos coroas que estavam lá, um de camisa aberta e chapelão parecendo o Almir Sater, pediu uma almôndega e juro que quando o dono do bar espetou ela no palito quebrou-se uma película que estava formada na superfície do molho. Puta merda, nojento!

-Olá meu bom senhor! (O Thiagão chamou o tio do balcão de bom senhor? Sério?!) Você saberia nos informar onde podemos encontrar um borracheiro ou um lugar pra arrumar nossa bicicleta?

  O cara tava enxugando um copo com um pano de prato, deu um grunhido e apontou para uma casa lá no fundo da rua daquele lugarejo (vimos ela pela janela). A casa também era toda ferrada mas tinha um fucking pedaço de papelão na parede escrito de tinta preta BURRAXEIRO (sim, desse jeito). Puta que pariu, era muita sorte, vocês podem não acreditar e dizer que isso é um furo do caralho na história mas juro por Jah que é verdade! Tinha a porra de um borracheiro poucos metros a frente.
  Ok, agradecemos e seguimos. Chegando no local, chamamos e um sujeito magrelo esquisito (muito parecido com o Nosferatu daquele filme antigo) atendeu e contamos a história. Ele pegou a bike e disse para esperarmos que em 20 minutinhos estava pronto. Demos 10 pilas para o vampirão e saímos de lá.
-Porra Dexter, ta vendo? O universo tira mas depois dá! Tem lógica ter a porra de um borracheiro logo nesse fim de mundo?! Eu respondo: não! É muita cagada, bora tomar umas doses de corote naquele boteco pra comemorar!!
  Não pude concordar mais, voltamos para o bar e em 15 minutos já tínhamos tomado 3 doses de pinga cada um.
-Thiagão, tá quase na hora, paga o moço aí e vamos voltar pra borracharia.
  Ele palpou os bolsos, revirou-os ao contrário e nada, caiu uma mosca morta de dentro mas nada de dinheiro. Também procurei mas na hora que botei as mãos dentro da calça percebi que tinha esquecido a carteira, nem um tostão furado eu tinha comigo.
-Caralho Dexter, tô sem um puto, gastei tudo naquele borracheiro. Tem nada aí não?
-Tenho não mano, fudeu.
-Será que se a gente der um pouco de sardola pro cara ele aceita como pagamento?
-Claro que não Thiago, tá maluco? Olha pra cara dele, o tio tem jeitinho de ser o sujeito mais careta do mundo, tem uma foto dele jovem no exército ali na parede. Inclusive ele já ta olhando desconfiado pra gente, deve ter percebido que não temos dinheiro ou reparado na nossa cara de maconheiro.
-Putz, fudeu mesmo então, deixa eu olhar aqui dentro da mochila se tem grana.
  Thiagão foi tão burro que abriu a mochila na frente do homem, revelando todo o conteúdo: a quantidade absurda de erva. Quando o cara viu aquilo fez uma cara demoníaca e gritou a 190 decibéis com a gente:
-ISSO DAÍ É DROGA?!? QUE MERDA VOCÊS ESTÃO TRAZENDO AQUI PRO MEU ESTABELECIMENTO?
  Olhamos para o tiozinho incrédulos, nós e o bar inteiro, todos estavam querendo saber o que estava acontecendo:
-SAIAM DAQUI AGOOOOORA!!! PERDI DOIS FILHOS PRA ESSA PORRA DE DROGA E NÃO QUERO SABER NEM DE VER!! SAIAM DAQUI, SAAAIAM ANTES QUE EU META O PIPOCO EM VOCÊS!!!
  Não precisou nem falar duas vezes, catamos nossas mochilas e vazamos dali  em direção ao borracheiro.
-Porra Thiagão, mas você é um animal mesmo, vai abrir a merda da mochila na frente do cara?!
-Ah veio, não reclama, pelo menos não pagamos pela birita.
  Era verdade. Escoramos no portão do conde Drácula e ficamos esperando quando noto uma garota muito da filezinha se aproximando da gente: moreninha, de shortinho, olhos cor de mel, corpinho mignon, huuum.. Cabelo alisado na chapinha mas tá valendo.
-Oi rapazes.. Estão esperando a bicicleta ficar pronta?
-Olá princesa, estamos sim.. E você, mora aqui?
-Moro sim. O borracheiro Ronan é meu irmão, fico aqui entediada nesse fim de mundo o dia inteiro esperando pra dar umas fugidinhas..
  Huum, cara de safada, essa menina tá querendo treta. A bike fica pronta, pegamos e continuamos conversando com a gata. O papo vai rolando, ficando cada vez mais sugestivo de acasalamento e ela me lança o seguinte:
-Vocês dois são bonitos.
-Obrigado gata, você é que é linda.   Lança Thiagão já segurando a mão da menina..
-Hihihi, obrigada. Então, meu pai tem um depósito de bebidas ali atrás, vocês não querem ir lá dar uma olhada e ficar pra gente... se conhecer melhor?
  Eeeeita, tô achando que vai rolar um Rock And Roll aqui hein, a mina é sacana! Só não curto esse negócio de bolas batendo, eu e Thiagola vamos ter que revezar. Espera aí... É impressão minha ou a mina disse depósito de bebidas?
-CREMIIIIIILDAAAA!!! O QUE VOCÊ TÁ DANDO PAPO PRA ESSES VAGABUNDOS FUMADORES DE DROGA???
-Iiiih, é meu pai, fudeu!    Disse Cremilda correndo para dentro de casa.
  Me viro e meu irmão... O dono do bar era pai da garota, e tava vindo atrás da gente muito puto, o inferno refletido em seus olhos. Acontece que na hora nem reparei nos olhos dele e sim no três oitão (.38) gigantesco que o cara tava carregando na mão. Dessa vez fudeu feio!
  Thiago me puxa com desespero no olhar e montamos nas bikes correndo pra ir embora.
-EU NÃO FALEI PRA VOCÊS SUMIREM DAQUI!!! FILHOS DA PUTA, VÃO EMBORA!!
  Já não bastasse nosso pânico o cara ainda dá um tiro pra cima. Aí ferrou tudo, saímos correndo desembestados de bicicleta, acredito que uns 50 km por hora a gente alcançou fácil fácil. Corremos tanto, mas tanto, mas tanto, que no meio do caminho (já longe do lugarejo) Thiagão passou por cima de uma pedra e como estava muito rápido caiu da bicicleta e se destrambelhou inteiro no chão. Parei pra ajudar o cara e quando desci da bike ele ainda estava rolando. A queda foi foda mas tem um detalhe que deixa ela mais foda ainda: Thiagão não tem esse apelido por acaso, o cara é um monstro! Deve ter 1,90 de altura, uns 95 kgs e é forte pra caralho! (Antigamente era gordo, mas aconteceram umas paradas muito fodas na vida dele e ele acabou entrando na academia e virando maromba) Você conhece o ditado né "Quanto maior, maior a queda"; pois é, ele é muito verdadeiro.
  Cheguei perto e o brother tava tooodo fudido: ralado, arranhado e com um corte grande pra cacete na testa que não parava de sangrar e com certeza ficaria cicatriz. Ajudei o cara a levantar e saímos andando devagarinho, empurrando as bicicletas.
-Caramba mano, esse corte na testa ta foda, sangrando demais. Vou te levar pro hospital que isso aí vai precisar dar ponto.
  Thiagão simplesmente começa a chorar.
-Isso é maldição dos deuses da maconha Dexter, roubamos ela dos caras e eles estão amaldiçoando a gente (ele no caso né, até então eu tava intacto). Melhor a gente nem fumar que essa ganja vai dar é azar.
  Lágrimas nos olhos dele, o nariz escorrendo, deu dó do cara.
-Relaxa, isso é nóia brow. Vou te levar no pronto socorro e depois que você suturar esse corte vamos fumar a melhor sardola da nossa vida, fica tranquilo, a recompensa tá vindo.
-Sei não mano, sei não.. *fungada* 

  Enfim, demoramos pra caralho mas chegamos na cidade e alguns minutos mais tarde no pronto-socorro municipal, Thiagão estancando o sangramento da testa com a camisa e reclamando sem parar.
Preenchemos a papelada e fiquei esperando com o cara na salinha de sutura enquanto a médica não chegava. Passou um tempo e entra no lugar uma enfermeira dizendo:
-Olha, o anestésico tópico em forma de creme acabou, vamos ter que aplicar o injetável no local antes de fazer a sutura.
  Thiagão me olha com desespero enquanto a mulher ajeita o remédio e a seringa, o cara morre de medo de agulha. Tento disfarçar, mas dá pra ver claramente que estou rindo por dentro, ele fica apontando o dedo pra mim numa expressão que quer dizer "Você vai ver". A enfermeira aplica a injeção na testa e uma lágrima escorre do olho dele.
-Que absurdo, um homão desse tamanho chorando por causa de uma picadinha. Diz a nurse
  Dessa vez não aguento, começo a gargalhar de rir.
-Dexter filho da puta, espera eu sair daqui pra você ver, espera só. *choramingando*
-É nóia brow.  Digo rachando os bicos.
  Tava rindo, mas foi só quando a mulher abriu um armário e tirou lá de dentro uma bisnaga de anestésico dizendo "Nossa, desculpa, achei que tinha acabado" que comecei a rolar no chão de tanto gargalhar. Thiagão ficou puto:
-Sai daqui Dexter, sai daqui porra, se for pra ficar rindo de mim pode me esperar lá fora!
  Nisso a médica chegou e fui lá pra rua aguardar. Peguei um pouco da maconha roubada e comecei a bolar um dedão de golira. Ficou top viu: grandão, estilo cone, bem apertado... Eu estava ficando bom nessa porra de bolar, precisava dar uma parada na sardola (quando você fica bom em bolar é porque está fumando demais). Deu uns 20 minutos e Thiago me sai lá de dentro do Hospital com um curativo bem no meio da testa. Devia ser quase umas 8 da noite.
-Pô mano, não precisava ter ficado rindo de mim, tenho o maior medo de agulha porra. 😟
-Relaxa mano, vamos pra casa que a marola nos espera nha nha.
  Saímos de lá e o cara me insiste pra passar descendo pela rua transversal, eu meio sem entender o por quê fui com ele e quando estávamos bem na lateral do hospital Thiagão me entra numa porta mó mocada escrito "apenas funcionários" e me pede pra esperar que é rapidão. Será que ele queria ir no banheiro? Mas se sim por que não foi enquanto ainda estava lá dentro?
  5 minutos depois o filho da puta me volta com um extintor de incêndio.
-Mano, puta que pariu, pra quê você ta roubando o extintor de incêndio de um hospital? Você é doente??
-É vingança por eles terem me aplicado injeção na testa sendo que tinha o creme anestésico. Enfermeira psicopata masoquista filha da puta, fingiu que não tinha só pra me ver sentir dor.

  Saímos andando rua afora, ele com um extintor de incêndio na mão e eu com uma mochila cheia de sardola nas costas. Até tentei explicar que aquilo era fruto do dinheiro público, que o hospital poderia pegar fogo e eles precisarem daquilo... Tsc tsc, em vão. Thiagão queria porque queria roubar o objeto e nada o faria mudar de ideia. Chegou ao absurdo de falar que dentro do hospital eles tem uma salinha com estoque de extintor de incêndio.

-Tá maluco filho da puta? É lógico que eles não tem uma salinha com estoque de extintor! De onde você tirou essa ideia ridícula da porra?
-Claro que tem mano, meu padrasto que me falou! É um hospital, eles não podem arriscar ficar sem extintor caso tenha um incêndio. Olha que filho da mãe, falando isso com um extintor roubado na mão.
-Ta bom cara, ta bom, se você diz... Mas que não tem não tem.
-Tô falando velho...
  Chegamos na porta da minha casa e Thiagão se despede:
-Veio, vou lá em casa tomar um banho, pegar o carro da minha irmã e voltar. 15 minutos e tô passando aí pra irmos pra casa do Bigode torrar essa brenfa. Dridri e Cabral já estão lá.
-E por que não pegou o carro dela antes da gente ir pra roça seu filho da puta?
-Ela estava na cidade dela da facul, voltou hoje a tarde quando a gente já tava lá.
-Ta certo viu, loroteiro do caralho. Demora não!
-Já já passo aí.

  Entrei em casa, estava mesmo precisando de uma banheta, fedia pra cacete. Tomei um banhão e 20 minutos depois Thiago chegou buzinando na porta. Reparei que o extintor de incêndio estava no banco de trás. Joguei a mochila lá junto dele e perguntei:
-Thiagão, pra que você trouxa essa porra?
-Ta falando do extintor? Pra gente zuar ué. Quando estivermos chapadões vamos reunir os caras e sair tacando água no povo da cidade.
-Primeiramente, extintor não esguicha água e sim um pó branco; segundamente, isso vai dar a maior merda, se um polícia ver essa porra aí vai querer parar a gente e perguntar o que é.
-Whatever.. Tem uma sardola bolada aí pra gente queimar?
-Não. Vou fazer uma perninha de grilo aqui pá noix.  Até me esqueci do dedão de gorila que tinha bolado enquanto ele tava no hospital.
  Peguei um pouco de brenfa e confeccionei um cigarro mais ou menos, taquei-le fogo e mano... que sardola deliciosa, que aroma, que timbres!
-Dexter, você é a favor da liberação das drogas?
-Sim, sou sim.
-Então libera essa porra aí ô mão de cola! Também quero fumar!!
-Caralho Thiagão, olha pra frente!
-Nessa eu não caio Dexter, passa a bola!
-Olha pra frente porra, a polícia!

  Puta merda, a uns 200 metros de onde estávamos vi as luzes azuis e vermelhas da viatura piscando: era uma blitz, e o pior era que estávamos numa ponte longa, sem chance de desviar, acho que os caras botam operações nesses tipos de lugares de propósito. Nesse momento congelei por uns 10 segundos (que mais pareceram 3 eternidades inteiras) e não vi nem ouvi nada, só fiquei olhando a sirene e pensando "Puta que pariu, se eles abrirem a mochila a gente vai preso na hora." Voltei à realidade com um chacoalhão do Thiago:
-A sardola, a sardola!
-Ta maluco porra?! A polícia ali e você querendo que eu te passe??
-Não é pra me passar ô animal, é pra jogar fora!
  Abri o vidro e taquei o cigarro fora.
-Olha mano, faz cara de paisagem e fica quieto que eles não param a gente.
  Puta que pariu, o cu tava tão trancado que não passava nem uma agulha ensebada.

  Passamos devagarinho ao lado do policial, ele tava fazendo um gesto mandando a gente seguir e ia deixar a gente passar, ia, juro! Mas no último segundo, quando estávamos quase indo embora o cara olha dentro do vidro do banco de trás e rapara no extintor de incêndio, na porra do extintor de incêndio. Convenhamos que um extintor enorme no banco de trás é algo suspeito, coisa de adolescentes bêbados que roubaram de algum lugar (apesar de que não era o caso. Pelo menos não a parte do "bêbados", o viado do Thiago tava bem sóbrio quando roubou). Sei que Sargento Queiroz olhou aquele troço, parou de fazer sinal pra prosseguirmos e mandou encostar. Thiagão filho da puta, íamos ser presos e a culpa era dele. Ele abre o vidro do motorista:
-Boa noite!
-Boa noite, habilitação e documentos do veículo por favor.
  Ele entrega um porta documentos pro guarda.
-Esse carro não ta no seu nome.
-É da minha irmã senhor.
-Sei, sei, vamos ter que averiguar. Se tiver alguma coisa errada você ta fudido garoto. *fungada* E que cheirinho é esse aqui?! Rolou um show de reggae aí dentro? Todo mundo pra fora, vamos revistar o veículo!


  Saímos de dentro e Sargento Queiroz começou a fuçar o carro. Enquanto outros dois policiais nos revistavam eu xingava mentalmente Thiagão de tudo que é nome, torcendo para que um negão coma o cu dele todo dia quando estivermos na cadeia. Os pm's terminam o baculejo e não sei como mas não encontram o dedo de gorila que eu tinha no bolso. Sorte? Sim, mas nem tanto, assim que o sargento abrisse a mochila seríamos presos em flagrante. Passam-se 15 minutos, que mais pareceram 50 eternidades e Queiroz vem andando em nossa direção. "É agora, vai dar voz de prisão" pensei:
-Onde é que você arrumou esse machucado na testa moleque?
-Caí de bicicleta senhor..
-Hahaha se fudeu, tá feio pra caralho! E esse extintor aí, de onde vocês pegaram?
-É do meu pai senhor. Ele tem um comércio e o dele venceu, comprei esse pra ele.
-Cadê a nota fiscal?
  De repente, um barulho vindo de dentro da viatura quebra o silêncio: um bipe estilo nextel e uma voz feminina chiada dizendo "Atenção todas as unidades, temos um 155 e um 121 no centro, rua atrás da prefeitura, prioridade máxima. Viaturas disponíveis se desloquem para o local imediatamente". Sargento olhou pra viatura, olhou pra gente e deu um suspiro. Sabe o que isso significava? Salvos pelo gongo muleque!! Mas como ele não achou a mochila?
-Olha, vocês dois estão liberados. Caiam fora daqui.
  Não precisa nem falar duas vezes, entramos dentro do carro suando frio, olhei para Thiagão que estava petrificado, tapei os olhos com as costas das mãos e perguntei:
-Como caralhos você escondeu a mochila?
-Joguei pela janela na hora que você viu a polícia, não lembra?
-Não, eu estava em pânico, não vi nem ouvi nada aquela hora. Espera aí.. A gente tá numa ponte, se você jogou pela janela...
-Sim, provavelmente caiu no rio..
  Agora foi a minha vez de chorar.
-Calma Dexter, antes essa porra ter caído no rio que a gente estar preso agora com um negão de olho no nosso rabo. Amanhã de dia a gente volta aqui e procura, vai que temos sorte e ficou presa num galho né?
  Pior que o cara tava certo, encostei a cabeça na janela e fiquei curtindo minha depressão.
-Pelo menos sobrou alguma coisa aí?
-Sobrou o dedo de gorila aqui no bolso, não sei como não acharam na revista.
-Bom, acho que dá pra gente fumar ele hoje e ficar de boa. Amanhã achamos a erva lá embaixo.
  Seguimos para a casa do Bigode e chegando lá contamos a história toda. Lógico que todo mundo ficou decepcionado e deprimido, mas resolvemos isso torrando a tronquita, pelo menos estávamos seguros e fora do xilindró. De resto foi uma noite tranquila, a erva era realmente muito boa e só com aquele cigarro deu pra todo mundo ficar doidão, valeu a aventura.

  No outro dia, eu e Thiagão descemos até a base da ponte e ficamos procurando a mochila... Em vão. Só lixo e camisinhas usadas repousavam por lá, da mochila mesmo nem um rastro, devia ter caído no rio. Ficamos bem tristes mas fazer o que né? Só pude concluir que Thiagão é um mago do caralho e estava certo desde o princípio: aquela sardola era realmente amaldiçoada, os deuses da maconha deviam ser muito zueiros e/ou vingativos e estavam o aquele tempo todo castigando nosso roubo.. Enfim, a moral da história é: porra nenhuma, não tem moral. Aliás, a moral é não roubar maconha malocada dos outros que no final você é amaldiçoado.
  Pra terminar, o pior dessa odisseia toda é que não sei em que momento dela passei mais raiva: se foi quando pedalei 15 km, se foi o esporro e a fuga do dono do bar, se foi o baculejo, a mochila perdida ou se foi dois dias depois, quando andando no centro da cidade escutei um hippie vendedor de colares comentando com o outro "Pô cara, dois dias atrás eu estava dormindo debaixo da ponte e caiu do céu uma mochila que ficou presa em um galho. Quando abri tinha uns 4 kg's da melhor brenfa da minha vida brow! Inacreditável!! Os deuses da maconha devem ser mesmo muito bonzinhos viu!"
                                                      É foda maluco, é foda...


OBS: * Os nomes utilizados no relato são fictícios 
          ** As fotos não são minhas, tirei do google apenas para ilustrar o relato
          *** Não use drogas

quinta-feira, 13 de julho de 2017

A primeira vez que fumei maconha - Relato cannabico

  Tenho saudade das primeiras vezes que fumei maconha. Aquela sensação de proibido, o efeito inexplicável e incrivelmente potente dos primeiros beck's da vida, o cheiro forte da erva se confundindo com bosta de cavalo (se você já fumou prensados de péssima qualidade sabe bem do que tô falando, toca aqui ✋).. Tudo isso misturado ao medo da polícia aparecer a qualquer momento e da galera sóbria perceber que você está chapado. É a chamada época de ouro de todo maconheiro, como diria Bigode. Mas estou aqui para contar sobre minha primeira vez não é mesmo? Então vamos lá, se acomode e uma observação: caso não esteja interessado na minha história e queira apenas saber os efeitos que tive com a cannabis e como foi a experiência vou colocar esse marcador aqui  no ponto do texto em que começar a descrever os efeitos da onda, aí é só pular pra lá. Caso queira ler o relato completo é só continuar. Han han! Continuemos..
  Tudo começou numa festa nas férias de Julho do Terceirão de uma ex-namorada, havia combinado de ir com ela e uns amigos. O rolê era em uma cidade do interior, pequena e relativamente perto de onde morávamos (uns 40 minutos de ônibus, talvez) e festa nas férias de adolescentes quase recém formados já viu né? Uma putaria desgraçada. Tá todo mundo cansado, estressado com o Enem e vestibulares, fudido e querendo mandar o mundo todo pra puta que pariu: é lógico que teria muita bebida, povo louco, doideiras e, claro, maconha. Pegamos uma carona com o sogro (ops, ex-sogro) e chegamos na casa do anfitrião.

  Casa bacana, estilo sitiozinho, piscina, uns bois no curral ao fundo, gatchenhas de biquíni embaladas ao som de vodka com energético e tomando um funk.. Tudo perfeito, chego no quintal do cara onde o pessoal se encontrava e a primeira coisa que reparo é em uma mesa de plástico, daquelas de boteco da Skol, lotaaaada de bebidas de todos os tipos: vodka, cerveja, whisky, energético, refrigerante, cachaça, limões (sei que não é bebida, mas dá pra fazer uma caipirinha da hora 👌) e mais uma porrada de coisas. Até imaginei no momento aquele efeito sonoro que colocam nos filmes de anjos cantando "oooooooohhh♫🎝" quando o personagem encontra alguma coisa maravilhosa. Especificamente lembro da garrafa de uma bebida que não sei dizer se era de cachaça ou uma mistura qualquer da roça, mas que me fez rir muito: a Na Bundinha. No rótulo tinha o desenho de um cara enfiando o dedo no cu e tomando uns goles de pinga, muito pala. E antes que alguém pergunte: não, não tomei Na Bundinha.
  Enfim, peguei um copo, uma dose qualquer e fui prosear com o pessoal da festa. Até o meio do ano eu tinha repetido o Terceirão com eles como ouvinte (me preparando para o vestibular) e depois das férias iria embora fazer cursinho na capital, de forma que havia muito papo para colocar em dia. Tô lá conversando com uma menina qualquer quando reparo em uma discussão atrás de mim: um cara magrelo que eu não lembrava o nome (mas já havia ouvido falar que era doidão) estava discutindo doidaço -os olhos em chamas de tão vermelhos- com uma mina japinha amiga dele. Não entendi o que ele falou mas me lembro da garota dizendo: "-Véi, se você quer ficar louco bebe (estende o copo), bebe aqui mas não fuma não, por favor, não faz isso!!" Ele respondeu uma coisa qualquer, que novamente não entendi, e logo saquei: huhum, tava fumando um bereu né safado? Tô vendo.

   Continuei a festa e eis que surge Dridri. Driello* era da minha sala original e também estava repetindo o terceiro ano como ouvinte. É um dos caras mais loucos e gente boas que já conheci, imagina só: rockeirão, sempre de preto, jaqueta de couro (as vezes sobretudo) e até pouco tempo atrás usava o cabelo comprido. Detalhe que o cabelo dele é cacheado, então ficava mó esquisito comprido, parecia um poodle metaleiro dos anos 80, graças a Deus ele cortou. Acho que naquela festa foi a primeira vez que vi ele de chinelo, Dridri mudou muito com o tempo, anos mais tarde fumaríamos altos baseados juntos. Cumprimentei o cara com um abraço e a primeira coisa que ele fez foi levantar os óculos escuros e me perguntar: "-Mano, eu tô muito chinês?"  Pra você que não conhece o vocabulário dos maconheiros, estar chinês significa estar sofrendo de um dos efeitos mais comuns que ocorrem quando se fuma um baseado: ficar com os olhos inchados, vermelhos e quase fechando, tal qual um sujeito oriental. É um dos sintomas que mais denunciam o uso de maconha. Falando em vocabulário dos maconheiros posso acrescentar que existem tantos termos, expressões e vocábulos típicos do pessoal que queima um com frequência que eu poderia fazer um dicionário... Um dicionário não, uma nova língua! Já pensou? Maconhês, a língua dos maconheiros. Qualquer dia desses vou fazer um post listando as principais expressões cannabicas. Mas enfim, viajei aqui, voltando à história, olhei para os olhos de Dridri: pareciam duas labaredas, tava com uma cara do cacete de modo geléia. "-Tá não Dridri, tá de boa." "-Aaah, que bom cara, já já escurece e quando tirar os óculos não quero dar pala." Ficamos conversando um tempo e chegamos ao assunto maconha, naquela época eu já tinha pesquisado a respeito e estava com muita vontade de experimentar, minha ex também: "-Mas fala aí Dridri, hoje vai rolar fumo de novo? Fala com os caras aí, tô afim de experimentar pela primeira vez." "-Se você vai experimentar é lógico que vai ser a primeira vez né mano, cuidado com o pleonasmo hahaha. Olha, vou perguntar os caras aqui se ainda tem e se eles forem fumar te chamo, formou?" "-Formou!"  Dridri saiu e continuei lá de boas conversando com o pessoal. Naquela mesma festa enchi o saco dele mais umas duas vezes pra saber se o beck ia sair ou não, mas por incrível que pareça o salvador que apareceu com o cigarro foi quem eu menos esperava..

  Aconteceu assim: eu estava tranquilão num canto, assistindo dois caras fazendo bodyshot na barriga de uma gringa intercambista da escola quando alguém me puxou pelo braço. Era ninguém mais ninguém menos que Alicinha*, a minha ex, que na época era atual, e eu havia ido pra festa junto. Me puxou pelo antebraço e disse: "-Vem cá que eu arrumei o bagulho." Saímos correndo para o fundo da casa e sentamos atrás de um monte alto de brita, com vista para a rua. Ela meteu a mão dentro da bolsa e tirou um pedaço amassado de papel alumínio, achei meio esquisito, obscuro, mas só assisti. Abrindo com cuidado o papel prateado me tira lá de dentro uma microponta, que sinceramente hoje sei que é pequena, mas na época foi mais que o suficiente para me deixar loucaralhaço. Era uma ponta bem ponta mesmo, devia ter o tamanho de uma polpa digital e meia talvez, a seda já estava amarelada devido aos fumantes anteriores e deixava os dedos fedendo pra caralho. Nem liguei, segurei aquela mini-sardola e taquei-le fogo. Dei umas duas tragadas, o gosto era meio estranho, forte, de erva mesmo mas meio esquisito, misturado com fumaça (por que será né)... Foi aí que vieram os primeiros efeitos.

 Passei a maryjane para Alicinha, que também deu umas duas ou três baforadas, botou um The Smiths pra tocar no celular e ficou esperando a onda bater. Primeiramente senti um relaxamento, a pressão baixar e a visão balançar de leve, efeitos muito parecidos com os do cigarro de palha. Virei pra Alicinha e disse: "-Aaa, isso é de boa, parece efeito de paiero." Ela concordou. Passaram-se 3 minutos, o efeito não passava. Dei mais umas tragadas. "-Parece paiero mas o efeito não passa em alguns segundos igual ele... Interessante." Mais 3 minutos, o efeito não só não passou como ficou pior, dessa vez a visão balançava muito forte e eu me sentia leve pra caramba, como se não tivesse peso e a pressão estivesse baixíssima. Dei uma risada excitada e ao mesmo tempo nervosa: "-Hahaha!!! Caralho! Isso é muito bom, é igual paiero mas 300 vezes mais forte, 300 vezes mais forte!! Hahahahaha!!!" Ficamos rindo e conversando sobre aquela sensação, em êxtase (não pelo efeito da droga, mas por estar sendo algo novo) mas foi só quando deu uns 10 minutos que o negócio começou a ficar louco mesmo: eu olhei umas pessoas passando na rua, elas olharam pra gente e minha visão estava meio distorcida, como se eu tivesse miopia, eu não conseguia focalizar o rosto delas em específico. Comecei a pensar "caralho, elas estão vendo que a gente tá fumando maconha.. putz e se elas chamarem a polícia pra gente, iríamos fuder a festa... Não, essas pessoas aleatórias não fariam isso... Mas e se a polícia passar aqui na rua e ver a gente? Puta merda, é enquadro na certa, melhor sair daqui." Comecei a ficar noiado sentindo que poderia aparecer alguém na calçada a qualquer momento e sentir o cheiro ou ver a gente e chamei Alicinha pra sair dali e ir escorar atrás da casa. Ela consentiu e foi quando levantei da brita pra caminhar até a parede que senti o primeiro efeito doooido mesmo, a psicodelia, aquelas sensações inexplicáveis que só sentimos nas primeiras vezes que fumamos maconha..

  Não sei descrever muito bem o que senti, mas parecia que eu não estava dentro do meu corpo de verdade. Eu conseguia me mexer, andar e fazer o que quisesse, mas não sentia como se aquele corpo fosse meu.. Olhava minhas mãos e era como se eu estivesse vendo um jogo de FPS. Deve ser até difícil para vocês entenderem o que estou querendo dizer mas fazendo uma analogia foi como se eu estivesse controlando um robô: imagina que você está dentro de um robô gigante, estilo Megazord. Você controla seus movimentos de dentro da cabine dele, pode fazê-lo andar, pular, falar.. Vamos supor que lá de dentro do robô você manda ele andar: você avança junto, já que está dentro dele, mas não sente suas pernas robóticas se mexendo como se fossem suas, não sente o equilíbrio da mesma forma que sentiria se ele fosse você.. Entendeu? Não? Tudo bem, lembrando disso nem eu mesmo entendo direito o que senti (descobri recentemente que essa sensação é chamada pela psiquiatria de Despersonalização). Digamos que foi tipo isso, mas ao mesmo tempo nada a ver com isso (ainda vou usar muito essa expressão durante o relato).
  Ademais, comecei a sentir que aquele caminho do monte de brita até a parede da casa (cerca de 5 metros) era extremamente complexo e consistia em uma jornada épica, surreal. Olhava para o chão e enxergava o capim e as ervas daninhas pequenininhas, imaginava aquilo tudo como se eu fosse um gigante e na verdade o tamanho das formigas fosse o tamanho real. Essa onda do megazord e das formigas não foi muito longa, já que 5 metros são 5 metros e logo encostei na parede. Aliás, minto, a onda do megazord permaneceu por um bom tempo, até quase o fim dos efeitos do beck. Assim que encostei na parede minha psiquê começou a viajar, dessa vez não sei explicar mesmo o que aconteceu, mas foi muito intenso: lembrei de fatos da minha infância, as imagens se passavam na minha cabeça como se eu estivesse assistindo uma fita VHS (inclusive a visão que tinha dessas memórias era meio chuviscada, sem cor, assim como as fitas de vídeo), lembrei (em visão em primeira pessoa) de eu correndo numa ponte de madeira que ficava no parquinho da cidade, de comidas que eu não gostava; do nada a viagem mudou, passei a imaginar imagens psicodélicas vivas, multicoloridas (muito parecidas com aquelas que vemos em vídeos do YouTube que prometem te deixar chapadão só de assistir) e na minha cabeça aquilo representava as conexões do meu cérebro, mapas mentais, fisiologia pura. Do nada as imagens mudaram e passaram a ser pulsantes, ora eram pretas e ora eram chapas do meu cérebro, como se eu tivesse vendo um "raio-x" ou ressonância magnética dele.
  Só lembrando que eu não vi isso, eu imaginei, mas essa imaginação era espontânea e intensa, eu não controlava, era como se estivessem injetando pensamentos em mim. Novamente: tipo isso, mas nada a ver com isso. Minha cabeça começou a pesar, estava pensando muito rápido e me cansando mentalmente. Virei pra Alicinha e disse: "-Caralho, tô muito louco." Ela também estava, jamais saberei se mais que eu ou não, era a primeira vez de ambos. Fiquei mais alguns minutos viajando naquelas imagens e ao mesmo tempo conversando com ela, me sentindo bem incomodado e já querendo que aquela onda parasse quando de repente me veio um estalo: e se eu ficasse doido daquele jeito pra sempre? Foi aí que o desespero bateu, comecei a ficar nervoso e a pensar que eu tava fodido, que jamais conseguiria ter uma vida normal daquele jeito e seria pra sempre um doente mental. Dei uns risos nervosos pra Alicinha e disse: "-Puta que pariu Alicinha, e se eu ficar assim pra sempre? Como é que vou estudar *meu curso superior* assim?? Como é que vou ter uma vida normal??? Fudeu!" Ela, muito jeitosa como sempre, ao invés de me acalmar disse: "Cacete, eu tô muito doida também, preciso pular na piscina pra ver se esse efeito passa! Não dá pra ficar assim! Vamos nadar, vem!" Tentei convencer ela a ficar senão todo mundo ia ver que a gente tava chapado (como se todo mundo naquela festa não estivesse) mas foi em vão: partimos para o quarto para trocar de roupa e dar um tibum na água. Hoje vejo que aquela foi a melhor coisa que poderia ter acontecido, se a gente ficasse ali e não tivesse se distraído com a piscina provavelmente a onda de ficar doido pra sempre iria piorar e eu teria tido uma bad trip fudida, logo na primeira vez que fumei maconha. Felizmente deu certo.

  Chegamos no quarto, ela foi para o banheiro botar biquíni e eu coloquei um calção. Quando estava terminando de me vestir olho para a porta do banheiro e vejo Alicinha só de calcinha, cara de safada e fazendo um gesto com o dedo me chamando. Fui pra cima na hora, sentindo um tesão absurdo que nunca havia sentido. Hoje sei que a maconha acentua suas sensações, por isso um tesão que ali no momento seria normal, grande, na hora foi absurdo, monstruoso.
Começamos a nos beijar e o resto do que aconteceu fica por conta da imaginação de vocês, não vou entrar em detalhes.. Mas digamos que a psicodelia do baseado me fez ter umas sensações muito intensas. Enquanto beijava Alice sentia que nossas almas e corpos estavam se conectando de forma infinita, sentia o erotismo e a sensualidade extrema de cada toque, de cada movimento labial, de cada mordida. Infelizmente o quarto não tinha porta e não pudemos concluir tudo que queríamos concluir mas enfim, saímos dali e fomos para a piscina.

  Pulando na água, que estava fria para um caralho diga-se de passagem, parece que o gelado me fez dar uma concentrada e aquela onda de loucura mental deu uma diminuída. Foi bom por esse lado mas eu virava para a mina e comentava com o queixo batendo que nunca tinha sentido tanto frio na vida (o que provavelmente era verdade, pelo menos a sensação, já que a maconha acentua todas), ela nem ligou, estava nadando feliz da vida e parecia nem se importar com a sensação térmica de -5ºC. Ao sairmos dali, sentamos junto com o pessoal da festa, onde estava rolando uma rodinha com violão. Nesse ponto a galera já estava bem mais tranquila, a noitinha, pessoal bêbado e cansado. Ficamos lá de boas, Alice soltando a voz cantando enquanto descansava a cabeça no meu ombro, tranquilidade, paz... Um fim de rolê perfeito. A única coisa ruim é que morguei nessa parte da roda, fiquei quieto lá, quase babando, calado, só observando, modo geleia total hahaha. Só depois de algumas horas fui arriscar voltar a conversar com o pessoal.
  Por fim, não me lembro se dormimos lá ou se fomos embora. Serião, daí pra frente o que ocorreu me foge da memória, acho que ficamos e fomos embora no outro dia.. Na real não sei, é só até aqui que me lembro. Essa foi minha primeira experiência com maconha e com drogas ilícitas. Você pode até falar que pareceu exagerado ou psicodélico demais e que na realidade não acontece nada disso e eu tô inventado, e minha resposta pra você é: foda-se. Quem estava lá era eu, só eu sei o que senti e o que se passou pela minha cabeça. As vezes acho que meu cérebro tem receptores "muito bons" para maconha e outras drogas, o que me permite uma viagem mais psicodélica do que a maioria das pessoas costumam ter; ou talvez isso aconteça por eu ser muito criativo e a substância deixa minha mente vagar livre como um corcel selvagem numa planície gramada (viajei de novo eu sei); ou talvez simplesmente isso tenha acontecido porque foi minha primeira vez e meu cérebro nunca havia entrado em contato com o THC da erva. Tanto faz o motivo de eu ter viajado tanto, a questão é que foi massa demais, uma experiência totalmente nova e com certeza uma das mais intensas que já tive com maconha. Depois tive viagens legais, como a vez que achei que tinha voltado no tempo, ou o dia que eu e um amigo descobrimos o sentido do universo e da vida, ou*² quando comia um chocolate pra matar a larica e cada mordida me mostrava um trecho da história da humanidade, mas isso tudo são assuntos para outro post, até então fiquem com esse.      
  Enfim me despeço, peço que deixe aqui seu comentário dizendo o que gostou, o que não gostou e que conte sua experiência também, vamos trocar uma ideia, é só comentar aqui embaixo 👇. Grande abraço pra todos vocês, tudo de melhor!

*Nomes fictícios

OBS: Atenção! Fiz esse texto apenas para compartilhar uma experiência de vida e conhecimento!! Não estou incentivando ninguém a usar drogas e inclusive aconselho com total sinceridade a nunca experimentá-las, mesmo maconha (que é uma droga forte e pode levar ao consumo de outras drogas mais pesadas SIM!) Pense na sua família antes de fazer qualquer besteira, abraço!

Apresentação - Bem vindo ao blog novo


  Então, como é que se começa uma apresentação amigável mesmo? Acho que me lembro, com o bom e velho oi.

                                                                             Oi.

  Seja bem vindo ao meu blog, a esse lugar onde pretendo expor experiências, relatos, devaneios, pensamentos aleatórios e contos (sim, curto bastante escrever) sempre que me der na telha. Você deve estar se perguntando porque caralhos alguém iria querer ler sobre um cara aleatório, sem uma descrição muito específica e que tem um macaco sequelado usando um controle de Super Nintendo como óculos na foto de perfil. Bom... Não sei responder essa pergunta, sinceramente, mas te convido a dar uma olhada por aí.. vai que você acha alguma postagem interessante ou de seu interesse. Sendo sintético sucinto, vou passar um "mapinha" do que irá encontrar por aqui:


  • Relatos 
  • Contos
  • Narrativas (sobre situações reais que aconteceram na minha vida ou inventadas)
  • Drogas e experiências psicodélicas
  • Games
  • RPG
  • Análise (de jogos, filmes, livros, séries, autores favoritos)
  • Game design
  • Meus jogos (então, gosto de criar jogos para computador, pretendo postar aqui não só eles mas as ideias que tenho de projetos de games e nem sempre levo pra frente)
  • Etc

  Enfim, pode ser que você encontre isso, pode ser que não. Pode ser que eu abandone essa porra em algumas semanas, pode ser que eu continue... Vai saber. Se você caiu de paraquedas nesse blog seja bem vindo e fique a vontade para ler, comentar, procurar posts, se inscrever ou entrar em contato comigo (viagensedelirios@gmail.com). Abraço!

Obs: Lembre-se! Você está no meu território, se for comentar merda, ofender gratuitamente, xingar, spamar ou qualquer outra coisa do tipo sumo com você daqui em dois tempos. Sou o deus desse lugar e controlo tudo com mãos de ferro! Mwhahahaha!!!